O estado adquiriu 1.100 câmeras, além de receber outras 200 do governo federal.A implementação de câmeras corporais nas tropas da Bahia ajudou a reverter a tendência de aumento nas mortes por intervenção policial, resultando em uma queda de 8,5% em comparação com 2023. Dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública revelam que, em 2024, o estado registrou 1.557 óbitos em operações policiais, frente aos 1.702 contabilizados no ano anterior. Desde 2015, o número de mortes vinha crescendo.Imagem: reprodução Mesmo com essa redução, a Bahia ainda lidera em número absoluto de mortes durante ações policiais, seguida por São Paulo, com 749 óbitos, e pelos estados do Rio de Janeiro e Pará.
O cenário de segurança pública na Bahia continua crítico, com o agravamento das disputas entre facções criminosas, a expansão da influência de milícias e o aumento da letalidade policial. Em resposta a essa crise, as câmeras corporais começaram a ser utilizadas em maio de 2024, após um processo de aquisição iniciado na gestão do ex-governador e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), e finalizado pelo atual chefe do Executivo estadual, Jerônimo Rodrigues (PT).
Implementação das Câmeras Corporais
O estado adquiriu 1.100 câmeras, além de receber outras 200 do governo federal. Esses dispositivos passaram a ser utilizados por dez unidades operacionais da Polícia Militar na região metropolitana de Salvador. No entanto, o projeto ainda se encontra em fase de testes e atinge apenas uma fração da tropa, composta por cerca de 33 mil agentes.
Mesmo com a implementação inicial restrita, cinco das dez unidades operacionais que receberam as câmeras registraram diminuição na letalidade policial. O governo estadual avalia a expansão do uso dos dispositivos como estratégia para aumentar a transparência e a eficiência das operações de segurança pública.
Dados obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação apontam que nas áreas onde os policiais usam câmeras corporais, as mortes por intervenção policias caíram 47%. Os dados comparam o segundo semestre de 2024, quando as câmeras já haviam sido adotadas, com o mesmo período do ano anterior.
Os equipamentos –cerca de 100 em cada unidade operacional– foram adotados no batalhão do Centro Histórico e nas companhias dos bairros de Pirajá, Tancredo Neves, Liberdade, Pernambués, Boca do Rio, São Cristóvão e Itapuã, em Salvador, e nas cidades de Candeias e Lauro de Freitas.
O bairro da Liberdade teve a queda mais expressiva no número de mortes por intervenção policial, saindo de 20 no segundo semestre de 2023 para 3 no mesmo período do ano passado. Por outro lado, a letalidade cresceu no Centro Histórico, Pernambués, Itapuã e São Cristóvão mesmo com as câmeras.
Balanço
No geral, foram 27 mortes em ações policiais nas dez unidades operacionais com câmeras corporais no segundo semestre de 2024 – no mesmo período do ano anterior, foram 51.
O secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, diz que a redução da letalidade passa por investimentos em tecnologia, capacitação das tropas e ações integradas com polícias de outros estados e forças federais.
“Cada vez mais, nós direcionamos o nosso policiamento pela inteligência, para alcançar lideranças [de facções], para prevenir ações criminosas e reduzir os índices criminais e diminuir a possibilidade de confronto”, afirma o secretário.
Além da redução das mortes por intervenção policial, a Bahia também teve uma queda de 8,5% no total mortes violentas, que incluem homicídio, feminicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte. Foram 5.944 em 2024 contra 6.500 no ano anterior, segundo dados do Ministério da Justiça.
Os indicadores mantêm a Bahia com a maior quantidade absoluta de mortes violentas do país dentre os estados brasileiros, seguido do Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Minas Gerais.Por Ana Almeida /
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