Devanir Moraes, de São Paulo, teve o Bolsa Família bloqueado em março por suposta falta dos filhos na escola; na foto, ela mostra que a frequência foi de quase 100%
Durante os meses de março e abril, o governo Lula realizou um grande bloqueio no programa Bolsa Família, afetando mais de 1,2 milhão de famílias. No entanto, o número exato de famílias afetadas não é conhecido, pois o governo não divulgou essa informação. A operação apresentou falhas que estão gerando confusão em várias cidades, como o sistema fora do ar, falta de orientação por parte do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e bloqueios de benefícios, mesmo sem a identificação de irregularidades.
Em abril deste ano, o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) bloqueou mais de 1,2 milhão de benefícios do programa Bolsa Família destinados a pessoas que afirmam viver sozinhas. Isso equivale a cerca de um em cada vinte beneficiários do programa. Além disso, em março, ocorreu um grande bloqueio para verificação da frequência escolar dos beneficiários. No entanto, o MDS se recusa a divulgar o número exato de famílias afetadas pelos bloqueios.
O MDS aconselha aqueles que foram bloqueados a procurar os postos do Bolsa Família em suas cidades para regularizar a situação. No entanto, o sistema operacional que gerencia os benefícios ficou fora do ar em muitas cidades durante a maior parte do mês, e a demanda tem sido maior do que a capacidade de atendimento. Como resultado, muitas pessoas estão insatisfeitas e as equipes de atendimento estão sobrecarregadas.
“Bloquearam o Bolsa Família por falta. Mas os meus filhos nunca faltam. Fomos até as escolas para saber o que aconteceu. A frequência deles é de quase 100%. E bloquearam mesmo assim. Estou com os documentos das escolas aqui,” afirmou Devanir Moraes, mãe de três filhos, que teve o Bolsa Família bloqueado em março.
“Eu moro sozinho há dois anos. Sou só eu e Deus. Eu alugo o andar debaixo. No andar de cima, vive a dona da casa. Eu era motorista, mas não posso mais trabalhar por problema de saúde. E ainda não consegui aposentar,” disse Carlos Lourenço da Silva, 62 anos, teve o Bolsa Família bloqueado em março.
Os problemas enfrentados pelo programa Bolsa Família têm sido tão graves que as equipes responsáveis por sua execução nos municípios têm feito críticas públicas nas redes sociais do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). De fato, o MDS chegou a excluir uma das postagens depois de receber muitos comentários negativos.
O MDS também afirma que os beneficiários bloqueados precisam assinar um termo de responsabilidade nos postos municipais, certificando que preenchem os requisitos para receber o Bolsa Família. No entanto, o modelo do documento sequer foi enviado aos municípios, que estão tendo que improvisar.
“Tá um caos sério. Nem na mudança do antigo Bolsa Família para o Auxílio Brasil houve esse rebuliço todo. O que eu tô vendo no dia a dia são pessoas desesperadas, sem saber se vão receber o benefício. São pessoas vulneráveis, [isso] mexe muito comigo. Eu vou adoecer,” afirmou Carlilson Medeiros, coordenador do cadastro do Bolsa Família em Triunfo Potiguar (RN).
“Todo mundo já chega muito bravo. Primeiro, a pessoa vai para outra cidade para sacar o Bolsa Família, porque aqui não tem Caixa. Lá, avisam que o benefício tá bloqueado e mandam vir aqui [na unidade de cadastramento do Bolsa Família]. Mas aqui tá sem sistema. As pessoas acham que é a gente que não quer liberar, ” afirmou Talia de Paula, entrevistadora do Cadastro Único em Ervália (MG).
“É a gente que enfrenta o povo. Mas não estamos tendo suporte [do governo federal]. O MDS informa para procurar o Cras, mas não estamos conseguindo fazer o desbloqueio, não estamos conseguindo ajudar as famílias. Está uma bagunça, não tem outra palavra. Eu estava sofrendo ameaça, me senti acuada, com medo e tive que solicitar [reforço de] um guarda para fazer a segurança,” falou Jéssica Lemos, que atua em Riacho de Santana (RN).
“O ministério faz posts lindos [nas redes sociais]: ‘vá ao Cras, atualize seu cadastro e tenha o desbloqueio e o [pagamento] retroativo’. Mas a gente fica sem saber o que fazer. Explicamos que, sinceramente, não tem previsão [para o sistema voltar]. Só que as famílias estão sem o benefício, que é a principal fonte de renda. Não tem como a pessoa permanecer calma,” finalizou Michelle Souza, coordenadora do Cadastro Único em Piquet Carneiro (CE). (UOL)
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