Localizada na Ilha de Itaparica, a praia de Cacha Pregos pede socorro por um problema que vem se agravando desde 2016: o avanço da maré. Enquanto os empecilhos parecem ser inúmeros e a ajuda das autoridades muito pouca, a população vem dando um jeito como pode, com caçambas de pedras, teorias sobre os motivos que levaram à situação atual e a esperança de que o poder público ajude de alguma forma.
Ao perguntar a qualquer morador qual área mais tem sofrido com o avanço do mar, a resposta é imediata: o Lasca Bolso, um bar que se tornou ponto de referência, nome de família e de barco. “É normal na troca de estação a maré descer, levar a areia e trazer de volta. Hoje, isso não acontece mais, e quando a maré está cheia, cobre toda a faixa de areia, comendo a contenção em frente às casas cada vez mais rápido”, explica Elita de Jesus Dias Santa Rosa, 66 anos, dona do Lasca Bolso e marisqueira que nasceu e criou toda a família na ilha.
A praia onde moradores e veranistas podiam jogar futebol e vôlei, em frente à casa de Dona Elita, hoje mal chega a 20 metros de faixa de areia na maré baixa, e sequer existe na maré alta. Penduradas no paredão que desaba aos poucos, as escadas de acesso à areia, antes com apenas um degrau à mostra, hoje ficam com todos os degraus visíveis durante o ano inteiro.
Moradores
“Tudo começou quando o Índio [morador da região] trouxe caçambas com pedras para proteger a casa dele e evitar que o avanço do mar corroesse a estrutura. A corrente aqui é forte e, ao passar pelas pedras dele, retém a areia e só manda mar para a gente”, diz o marisqueiro Elzébio de Souza, 64 anos, conhecido como Vadinho, que também nasceu em Itaparica e é um dos vizinhos do Lasca Bolso.
Vadinho levou a equipe de A TARDE para conhecer algumas construções abandonadas e a casa de Índio – um médico suíço que há cerca de 20 anos construiu uma casa em Cacha Pregos e ganhou esse apelido por sempre andar de tanga ou pelado pela praia, mas que, segundo os moradores, já não aparece na ilha há algum tempo. Nesse “tour”, foi possível perceber a reação em cadeia gerada pela intervenção de um morador, fazendo com que cada vizinho precisasse fazer o mesmo.
Moradora de Itaparica e administradora do restaurante Caiambá, Luana Portela conta que um vizinho começou a colocar pedras para conter o avanço do mar em 2016 e ela precisou fazer o mesmo com o restaurante no ano seguinte. “Esse também foi o ano em que entramos em contato com emissoras de TV com um pedido de socorro e conseguimos trazer órgãos como Inema, Ibama, SPU e a prefeitura [de Vera Cruz] para vistoriar a região. Na época, conseguimos que fossem recolhidos ferragens e entulho de construções abandonadas, onde moradores já tinham se ferido, mas foi só”, lembra.
Luana explica que, após esse episódio, as contenções foram feitas apenas pelos moradores, pagando por caçambas de pedras que, de acordo com ela, custam em torno de R$ 1,2 mil cada carga, fora o valor do descarregamento. “O avanço do mar ficou um pouco estável entre 2017 e 2020, mas avançou muito rápido em 2021. Nós ainda temos certo recurso para comprar as pedras, mas essa não é a realidade de muitos moradores. Além disso, falta um estudo real da região que nos dê uma resposta sobre o que está acontecendo e como devemos nos proteger”, desabafa.
Prefeitura
Mas, afinal, quem é o responsável pela manutenção e criação de contenções? Por meio de nota, a prefeitura de Vera Cruz afirmou que a faixa de areia onde Cacha Pregos está localizada seria de responsabilidade do governo federal e da Secretaria de Patrimônio da União (SPU), uma vez que a causa da degradação “é o avanço do mar”. A administração municipal acrescentou que “já está buscando soluções junto à SPU para, em parceria, realizar intervenções no trecho”. Até o fechamento desta edição, A TARDE não obteve resposta da SPU sobre as medidas que serão tomadas quanto à situação da bela e hoje degradada localidade. (Fonte: A Tarde)
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